A Aids sob a ótica do surdo adulto jovem

Autores

  • Isabel C.B. Bento
  • Sonia M.V. Bueno

Palavras-chave:

surdos, educação, aids

Resumo

Introdução: este trabalho trata de um estudo feito com surdos adultos jovens, de uma classe de Educação para jovens e adultos do período noturnode uma cidade do interior paulista, sobre o conhecimento dos mesmos, a respeito da aids. Objetivo: verificar o entendimento que os surdos têm a res-peito da aids, para conjuntamente se proporem ações educativas voltadas para as dúvidas e inquietações demonstradas pelos mesmos. Métodos: para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas individuais e coletivas, utilizando-se a linguagem de sinais, gravadas em vídeo, com acompanhamentode um instrutor de LIBRAS, sendo posteriormente transcritas. Foi utilizada também a Observação Participante dos sujeitos, para melhor compreendera realidade vivida pelos mesmos, em sala, durante as aulas e em dinâmicas realizadas, com registro em diário de campo. Os dados foram analisados qualitativamente, através de análise temática, conforme descrito por Minayo. Nesta pesquisa foi utilizada a pesquisa-ação no referencial teórico meto-dológico proposto por Paulo Freire. Resultados: foram entrevistados nove surdos, seis do sexo masculino e três do sexo feminino, com idades entre18 e 25 anos, todos cursando a 3ª Série do Ensino Fundamental, sete solteiros e um casal que vive amasiado, ocupando funções em profissões braçaisou subalternas ou mesmo sem ocupações e aposentados, todos católicos. Seis freqüentam a Associação de Surdos local num tempo entre 1 e 3 anos,época da fundação da mesma. Depreendeu-se que os surdos têm dificuldade em lidar de forma adequada com os conhecimentos que são veiculados, demandando uma adequação a estas informações à sua compreensão. Fizeram em suas falas ligação da aids com aspectos como promiscuidade, dro-gas, algo a ser evitado, morte e contato com sangue. Os surdos pesquisados conhecem a necessidade de evitar o contágio da aids, porém carecem demaiores conhecimentos a respeito das suas formas de contágio. Chamou atenção a questão dos surdos relacionarem a aids com algo visível, como oemagrecimento. Conclusão: o fato de todos os surdos pesquisados estarem cursando a 3ª Série do Ensino Fundamental, demonstra a dificuldade queos mesmos têm em acompanhar a escolaridade na faixa etária esperada, visto a compreensão que as escolas ainda têm de que a oralização está em pri-meiro lugar, em detrimento aos conteúdos curriculares, e que a fala é o que inclui o surdo no mundo ouvinte. É certo que os surdos, apesar da dificuldade na apreensão de informações veiculadas para ouvintes, conseguem tomar parte de conteúdos sobre as questões referentes a aids. Porém, entendemos que algumas formas de nivelamento devem ser efetuadas para suprir o necessário para uma tomada de decisão frente à prevenção do contágiopelo vírus da aids. Não existe de forma alguma a necessidade de que o conteúdo seja ajustado aos surdos, pois os mesmos não têm comprometimentoem sua inteligência pelo fato de serem surdos. É imperioso, sim, que a linguagem utilizada seja trabalhada para a melhor captação de informações,visto que a maior parte delas, no caso dos sujeitos estudados, são otimizadas pelos sentidos da visão e do tato. Experiências em que são utilizados recursos visuais ricos, bem como surdos que são exercitados em sua capacidade de se tornarem agentes multiplicadores das informações recebidas comseus pares, parecem ter resultados bastante promissores. Profissionais de educação e saúde precisam estar atentos para a peculiaridade da linguagem dos surdos, respeitando-os como uma cultura que tem, como experiência única e exclusiva, a não-utilização da audição, o que não os faz menos, esim diferentes, e por conta desta diferença precisam ser respeitados e atendidos como cidadãos capazes e detentores dos mesmos direitos de todos os ouvintes, dentro de uma sociedade igualitária e justa.

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Biografia do Autor

Isabel C.B. Bento

Enfermeira, doutora pelo Departamento EPCH da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (EERP/USP).

Sonia M.V. Bueno

Pedagoga, Livre Docente/Associada, professora do Departamento EPCH da EERP/USP.

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Publicado

2005-12-19

Como Citar

1.
Bento IC, Bueno SM. A Aids sob a ótica do surdo adulto jovem. DST [Internet]. 19º de dezembro de 2005 [citado 21º de novembro de 2024];17(4):288-94. Disponível em: https://bdst.emnuvens.com.br/revista/article/view/601

Edição

Seção

Artigo original